sexta-feira, 4 de junho de 2010

Transferências de embriões

Transferências de embriões
Dr Eduardo Onoe - Médico-Veterinário CRMV SP 7215

Há mais ou menos 15 anos, quando nasceu o primeiro potro de transferência de embrião, já se tinha consciência do impacto que esta técnica poderia causar no meio da criação de equinos.

Os criadores e proprietários de éguas mais bem informados já começavam a sonhar com a possibilidade de se conseguir mais de um potro por ano de suas melhores éguas. A transferência de embriões vem justamente para tentar ajudar os criadores a transpor o gargalo na criação de cavalos de alta qualidade que é a escassez de matrizes comprovadas. Jogada a um segundo plano em um meio onde os garanhões sempre foram a estrela principal de cada criatório, as éguas foram aos poucos obtendo o merecido reconhecimento e hoje sabe-se que um criatório de cavalos vive sem um bom garanhão mas não sem boas matrizes.

DEFINIÇÃO
A transferência de embriões é, por definição, um método artificial de reprodução que é utilizado para retirar um embrião do interior do útero de uma égua doadora e levá-lo para o interior de uma égua receptora. A receptora se encarregará de levar a gestação a termo e assegurará igualmente a lactação.

Os procedimentos básicos realizados na transferência de embriões são:
· Sincronização da ovulação entre doadoras e receptoras;
· Cobertura ou inseminação da égua doadora ;
· Lavagem do útero da doadora e colheita do embrião , normalmente no 7º ou 8° dia após a ovulação da doadora ;
· Localização, manipulação e eventual estocagem do embrião ;
· Seleção e preparação da égua receptora , e, finalmente;
· A transferência para o útero da égua receptora.

A égua doadora é coberta ou inseminada próximo à ovulação , sendo o dia da ovulação designado como dia 0. No dia 7 ou 8 , o útero da égua doadora é lavado para colheita de embrião. Este é localizado e identificado através de uma lupa e, em seguida, pode ser transferido para uma égua receptora de duas maneiras: cirurgicamente, através de uma incisão no flanco , ou não cirurgicamente através de uma pipeta. Atualmente, 95% das transferências de embrião realizadas são feitas pelo método não cirúrgico.

VANTAGENS DE SUA UTILIZAÇÃO
Os maiores motivos para realização de uma transferência de embriões são:
· Égua doadoras inférteis, resultando em impossibilidade de conduzir o feto a termo;
· Problemas físicos em éguas doadoras, como laminite ou trauma pélvico que também culminam na impossibilidade de conduzir o feto normalmente;
· O desejo de manter a égua doadora em competições, possibilitando conciliar a carreira esportiva com a carreira reprodutiva , e
· O desejo de aumentar a produtividade de uma égua para mais de um potro por ano.

A realização da técnica de transferência de embriões traz também outras vantagens , tais como :
· A obtenção de uma maior quantidade de descendentes de éguas superiores, de alto valor genético, fazendo com que a influência genética da fêmea no rebanho seja mais marcante;
· A obtenção de gestações de animais em competições hípicas, permitindo manter em paralelo a atividade esportiva da égua doadora;
· Obtenção de potros de éguas valiosas mais velhas, que podem ter dificuldade no aleitamento e na gestação ou já possuem uma degeneração uterina e lesões cervicais e vaginais;
· Obtenção de potros de éguas de dois anos, já que nesta fase a gestação é contra-indicada e pode prejudicar o desenvolvimento da potra;
· Obtenção de gestação de éguas subférteis, que por algum motivo ficaram impossibilitadas de gestar;
· Obtenção de gestação de éguas que parem tardiamente na estação; e
· Obter um ou mais potros de éguas que são objetos de transação comercial, fazendo com que essas éguas , antes de serem vendidas, produzam embriões de interesse ao ex proprietário.

RESULTADOS
Os resultados de prenhez por transferência de embrião variam de acordo com a associação de dois fatores:
· a taxa de recuperação embrionária e
· a taxa de prenhez após a transferência deste embrião para a receptora. Em relação à taxa de recuperação embrionária , esta gira em torno de 60% ou seja , de cada 100 lavagens uterinas realizadas , consegue-se encontrar embriões em cerca de 60 tentativas.

Os fatores principais que podem afetar esta taxa são, dentre outros:
· Dia da colheita , sendo que o ideal é que seja realizado nos dias 7 e 8 após a ovulação;
· Fertilidade do sêmen do garanhão , onde garanhões com sêmen com melhor fertilidade aumentam a chance de recuperação embrionária. Ë por isso que o sêmen congelado, devido a sua menor fertilidade, oferece piores resultados de recuperação embrionária;
· História reprodutiva da égua onde a taxa de recuperação embrionária é menor em éguas velhas ou subférteis do que em éguas jovens e férteis;

Já em relação à taxa de implantação embrionária, esta tem girado em torno de 65%, ou seja, de cada 100 tranferências de embrião realizadas, cerca de 65 resultam em gestação.

Os fatores principais que podem afetar esta taxa são, dentre outros:
· A habilidade do técnico que realiza esta transferência do embrião;
· A qualidade do embrião encontrado, onde logicamente embriões em bom estado oferecem melhores resultados de prenhez;
· A idade da doadora, onde doadoras idosas normalmente levam a taxas piores de prenhez;
· Qualidade reprodutiva da receptora, onde deve-se utilizar de preferência receptoras sabidamente férteis, otimizando desta maneira os resultados de prenhez;

Portanto, deve-se considerar a necessidade de, em média, 3 tentativas ( 3 inseminações da doadora ) para se obter uma prenhez na receptora, pois como foi explicado anteriormente, nem toda ovulação com inseminação resultam em fertilização; nem todo embrião é recuperado nos lavados uterinos; nem todo embrião coletado é viável e nem todo embrião viável transferido resulta em prenhez da receptora.

CONCLUSÕES
A transferência de embrião têm adquirido mais e mais simpatizantes que procuram nesta técnica uma maneira que agilizar o processo de seleção através do aumento de produtividade das éguas de genética superior. Hoje em dia, o Mangalarga Paulista, Mangalarga Marchador, Quarto de Milha , Appaloosa , Paint Horse, Árabe , Brasileiro de Hipismo, permitem e utilizam em quantidades crescentes esta técnica de reprodução artificial.

Basta citar que das 643 coberturas comunicadas na estação de monta de 1999 na raça Brasileiro de Hipismo , 123 eram referentes à comunicações de transferências de embrião ( 19,10% ) , o que significa que 1 em cada 5 potros nascidos da raça Brasileiro de Hipismo é resultado de transferência de embrião e logicamente oriundos de éguas de genética superior. Mesmo sabendo que a biologia nem sempre segue regras matemáticas, pelo menos a transferência talvez permita que o sonho dos criadores que a utilizam fique um pouco mais próximo à realidade.

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